Felicidade, uma estratégia de sucesso

Funcionários satisfeitos criam mais, vendem mais e são mais produtivos. É preciso, sim, focar em resultados, mas também é imprescindível desenvolver pessoas

Por Gabriella Ramos

Nunca se falou tanto sobre felicidade no ambiente de trabalho. Em um mundo onde problemas de saúde alimentados pelo estresse e pela insatisfação são cada vez mais comuns, gestores de empresas de todos os portes lançam um novo olhar sob a gestão de pessoas – um dos fatores mais importantes para o sucesso de qualquer negócio.

Gestão de Pessoas, Talentos Humanos, Gestão de Talentos, Capital Humano ou Capital Intelectual. São muitas as opções de nomenclaturas que nasceram para substituir os Recursos Humanos. Diante da nova realidade do mercado, no qual as pessoas estão em busca não somente de um emprego, mas também de um propósito, enxergar funcionários apenas como recursos deixou de ser uma opção.

Tâmara Bittencourt, Head of Advisory na Share RH, acredita que as empresas que não dão espaço e autonomia para pessoas que atualmente têm tanto acesso à informação não devem prosperar tão cedo. “Se não há uma ligação entre o propósito da empresa com as equipes, independente da idade, duas questões vêm à tona: a nova geração tem muito conhecimento, sem precisar necessariamente de um líder para obtê-lo e a sociedade, por sua vez, percebe cada vez mais a importância de sentir ao invés de ter. Se passo mais tempo no ambiente de trabalho do que em casa, preciso tirar experiências muito boas dali”, aponta.

Ainda existe, em algumas empresas, o pensamento de que ter boas experiências no trabalho significa perder tempo útil na realização de atividades para que os funcionários joguem jogos e se divirtam, mas o caminho não é bem esse.  “Boas experiências consistem em desafios, em poder fazer parte de decisões importantes, ser ouvido, ter espaço para trazer alguma contribuição independente da sua idade e do seu cargo”, defende Tâmara. “A sensação de fazer a diferença em uma decisão e de ser realmente importante para o funcionamento da empresa é impagável. As pessoas estão atentas e querem sentir isso, por isso buscam uma organização que se alinhe aos seus propósitos de vida”.

Ao analisar o ranking das 50 empresas mais amadas por seus funcionários no Brasil, divulgado anualmente pela Love Mondays, isso fica evidente. Nas primeiras posições estão as organizações que buscam cultivar relacionamentos mais humanos e empáticos com seus colaboradores, trabalhando seus valores e sua cultura organizacional diariamente.

A ThoughtWorks, que ocupa o posto de empresa mais amada do Brasil em 2018, busca fugir do estigma de ser uma empresa de tecnologia e, por consequência, não priorizar relações humanas.  “Acreditamos que o olhar generoso, empático e integral sobre o outro é, em primeiro lugar, a coisa certa a fazer. Além disso, é o que sustenta boa parte de nossa cultura organizacional, sem a qual a ThoughtWorks seria muito diferente do que é”, conta Marta Saft, Managing Director da ThoughtWorks Brasil.

“Ter a capacidade de enxergar o outro com o mesmo cuidado e empatia que olhamos para aquelas pessoas mais próximas de nós é essencial para entendermos os impactos – bons e ruins – da tecnologia na sociedade e fazermos o nosso melhor como tecnologistas, perseguindo um impacto positivo”, completa. Segundo ela, o olhar que a ThoughtWorks busca ter internamente traz aos funcionários a possibilidade  de encarar o mundo de uma forma mais justa, e pensar mais profundamente a tecnologia na sociedade.

Quanto ao título de empresa mais amada do país, Marta vê como um resultado de diversos fatores, mas tem um como central: a forma como tratam suas pessoas. “Acreditamos que juntos criamos o ambiente para que as pessoas queiram não só trazer o seu melhor para o trabalho como alcançarem o seu melhor, desenvolvendo seus potenciais. Criar e manter um ecossistema que proporciona autonomia, aprendizado conjunto e compartilhamento contínuo, é um catalisador para todos os nossos potenciais e para o bem estar coletivo que buscamos como organização”.

Líderes que transformam

Tâmara Bittencourt acredita na existência de outro fator em comum nas empresas favoritas dos funcionários: lideranças com olhares voltados às pessoas. “É claro que toda liderança deve focar em resultados, mas isso não significa deixar de valorizar as pessoas. É preciso ter equilíbrio. Quando o líder tem o olhar voltado para a gestão de pessoas, ele entende que depende muito mais delas do que o contrário. Ele entende que deve ser um líder que serve, que facilita e que não pode complicar o trabalho das pessoas. Ele está ali para ser um facilitador, para servir à equipe e chegar aos resultados sendo um grande guardião”.

“Isso está muito ligado à questão da humildade da liderança. Para um líder servir sua equipe, ele deve ter humildade e estar desligado do ego, do poder da liderança. São lideres que estão muito mais preocupados em desenvolver pessoas e em atingir o propósito da organização”, diz Tâmara. Para trabalhar as questões de humildade e proximidade com as equipes, é essencial que o líder aprenda a ouvir. “Se realmente ouço as pessoas, consigo desenvolvê-las e levar minha empresa para um caminho de colaboração. Hoje em dia, o que vai diferenciar sua empresa são as competências de cada um dos seus colaboradores. Porque uma equipe feliz é unida, trabalha com propósito e sente que tem espaço para autonomia e para colaborar”, completa.

A eficácia de uma cultura organizacional que valoriza a felicidade das pessoas não é novidade para pesquisadores. De acordo com um levantamento do Harvard Business Review, funcionários felizes têm uma produtividade 31% maior, geram 37% mais vendas e são três vezes mais criativos que seus colegas desmotivados.

Diversidade: uma vantagem competitiva

Para Marta Saft, a diversidade é outro fator importante na construção da cultura organizacional da ThoughtWorks e tem um papel crucial nos níveis de felicidade dos funcionários – conhecidos pela empresa como ThoughtWorkers. “A diversidade é parte fundamental de nossos valores e da nossa forma de trabalhar. Acreditamos que criar um ambiente de trabalho mais diverso é essencial, uma vez que a sociedade que nos inserimos também é muito diversa e todas as pessoas têm muito a adicionar”.

O relatório Delivering through Diversity, realizado pela consultoria McKinsey and Co., comprova: de acordo com o estudo, empresas que possuem maior diversidade de gênero têm 21% mais chances de lucrarem mais que seus concorrentes, quando comparadas com empresas que possuem níveis menores de diversidade. Com a diversidade cultural e étnica, essa porcentagem sobre para 33%.

Daniel Castello, consultor, palestrante nas áreas de Estratégia e Gestão de Pessoas e mentor Endeavor, ratifica. “O mundo está cada vez mais complexo. Ninguém entende tudo. Quando você traz diversidade para a empresa você traz novos pontos de vista, que são valiosos para compreender o mundo melhor e para compreender os pontos de vista do seu consumidor melhor. O exemplo mais potente que conheço é do Vale do Silício: lá, quase 70% dos programadores são nascidos fora dos EUA e o resultado disto é que 30% do faturamento das empresas de lá é obtido fora do país. Alguém acha que isto é coincidência? Pessoas iguais pensam igual, veem o mundo igual, analisam problemas igual, chegam às mesmas conclusões – é difícil inovar assim”.

O futuro da gestão de pessoas

Olhando para o futuro, percebe-se que o mercado de trabalho está mudando, tanto para empresas quanto para colaboradores. “As mesmas tendências que observamos nas novas gerações em relação às demandas de consumo, podemos observar em relação ao mundo do trabalho”, comenta Marta Saft.

Para ela, as pessoas estão em busca de mais sentido para a própria vida, sendo quem são em todos os ambientes e respeitando seus princípios, interesses e estilo de vida. “O mesmo conceito de experience design, que olha para a experiência de usuários, deveria valer para as empresas de hoje. É preciso pensar sobre como as pessoas gostariam de ser tratadas e o que buscam, algo de que o mundo do trabalho tradicional se distanciou por bastante tempo”, completa.

Já nos próximos anos, Daniel Castello imagina um mundo de empresas mais fluidas e diversas. “Hoje todas as empresas se parecem e isto é muito ruim. Empresas parecidas geram soluções parecidas, normalmente mais conservadoras. Precisamos de empresas mais únicas, que lidem com as pessoas de formas únicas, que se arrisquem a ser diferentes, a sair das regras. Isto vai construir uma miríade diferente de experiências, que gera novas formas de atuar no mundo. O novo vai nascer daí”.

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